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Livros ilustrados delas

Neste maio de 2024, saiu um artigo escrito a quatro mãos com a querida mestre Brigida Ornelas. O texto está na revista Leia Escola e pode ser baixado gratuitamente. Tratamos do processo criativo de duas ilustradoras brasileiras geniais: Marilda Castanha e Anna Cunha.

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Livros e bate-papos em escolas

Os livros, depois que são lançados, fazem trajetórias imprevisíveis. Os livros para crianças e jovens, se forem parar em espaços como salas de aula e bibliotecas escolares, costumam criar uma condição para os autores e autoras que é uma consequência das publicações: o bate-papo ou a visita para conversar sobre a obra e o processo criativo. E, a depender do trabalho que editora e autor(a) fazem, esses convites para ir às escolas começam a acontecer com frequência, o que nem sempre é simples de administrar.

Neste post, tento organizar um pouco da minha experiência como autora, sem deixar de lado minha vida de professora de escola pública. É bem pessoal, mas pode ser que alguém se identifique com as situações que vou abordar, como autor/a e como professor/a.

Há vários anos lido, afortunadamente, com esse tipo de demanda. Alguns dos meus livros são adotados nas escolas de Educação Básica para a leitura obrigatória, outros são comprados por editais públicos (de prefeituras, estados ou do governo federal), e isso é uma alegria enorme. Significa várias coisas: que as políticas públicas estão funcionando razoavelmente; que as editoras estão fazendo a parte delas; que as(os) professoras(es) estão gostando das obras e pedindo a compra a seus gestores; e que as escolas efetivamente estão usando esses livros. Se os livros são lidos e discutidos, pode ser que as pessoas envolvidas nisso pensem que um próximo passo é chamar o autor ou a autora para um bate-papo, geralmente presencial (mas também on-line, especialmente depois da pandemia), o que faz muito sentido.

Corta para um flashback:

Minha Educação Básica foi toda cumprida em escolas públicas: uma parte inicial em uma escola estadual e a maior parte em uma escola municipal, ambas em Belo Horizonte. Em todo esse tempo de estudos, nunca tive a oportunidade de conhecer um autor ou uma autora de literatura. No início do Ensino Fundamental, eu já era uma estudante muito apaixonada por ler, escrever e livros, mas eu não tinha quase nenhum interlocutor, o que teria sido bem importante para uma formação mais viável e informada nesse campo. Nem sequer minhas professoras e meus professores de literatura eram interlocutores para meu gosto por ler e escrever. E isso não tem a ver com a escola ser pública. Muitas escolas são assim… e isso continua acontecendo. Então eu sentia que: precisava fazer muito esforço para encontrar livros de autores vivos; achava a literatura contemporânea de gente viva algo muito distante de mim; considerava um privilégio de poucos, e muito longe, o escrever e publicar. Mas… ainda bem que fui atrevida. Lembro de querer fazer um concurso literário na escola (que não saiu) e de fundar um jornal com meus colegas (que rolou! por vários anos). Isso tudo era a vontade de encontrar um caminho sério na leitura e na escrita, algo que não fosse só obrigação e só funcional. Mas escritor e escritora, nem pensar. Esses eu demorei muito a conhecer.

Volta.

Pensando na minha experiência como estudante que queria ter tido mais oportunidades, vejo todo o sentido em visitar escolas e ter contato com os/as jovens. Mas isso não pode ser de qualquer jeito. É preciso que haja uma estrutura mínima para que isso aconteça e não se torne um sacrifício para quem trabalha nessa área.

O que estou dizendo pode ser pensado na forma de uma lista:

  • O livro é resultado do trabalho da escritora e de mais um montão de gente. Se foi adquirido pela escola, ele deve ser efetivamente trabalhado, isto é, lido, analisado, comentado, remixado (em trabalhos derivados dele).
  • O livro é uma parte do trabalho, a ida à escola é outra. Não são sinônimos e não deveriam ser oferecidos pela editora ou entendidos pela escola como uma espécie de obrigação da autora, uma espécie de “venda casada”.
  • Autores e autoras geralmente não vivem de seus livros. Quase todos precisam ter outra atividade que remunere dignamente, para sobreviverem e para continuarem escrevendo. Portanto, quando a escola faz o convite, a autora precisa deixar de fazer algo para estar com os estudantes.
  • É muito ruim para um autor ou autora deslocar-se até uma escola e não encontrar um ambiente acolhedor, mas mais do que isso: efetivamente preparado para uma conversa sobre o livro e o processo criativo. Se os estudantes não estão devidamente preparados, é melhor esperar.
  • O convite a um autor ou a uma autora precisa ser feito com todas as informações mínimas sobre data, horário, local, forma de deslocamento, tipo de tecnologia, recursos necessários, cachê etc. É preciso reiterar que essa é outra parte do trabalho. O ideal é que a escola providencie tudo isso, em especial se for uma instituição privada que tem condições para fazê-lo. Escolas públicas podem não ter condições objetivas de pagar um cachê, por exemplo, mas devem se preocupar com o deslocamento do convidado ou da convidada e com sua recepção no espaço. Outra coisa: jamais abusar do tempo das pessoas.

Não é só a escola que aprende com isso. Nós autoras e autores também aprendemos. Muitos autores topam, com gosto, bater papo com os estudantes sem cobrar nada, por exemplo, mas provavelmente fazem essa escolha baseados em suas condições objetivas. Há autores que precisam se sustentar e contam com o bom senso de quem convida. É importante, portanto, pensar em duas coisas:

  • evitar aquela história de “vai ser bom para divulgar o seu trabalho”; e
  • pensar que tanto o trabalho docente quanto o trabalho artístico devem ser valorizados de verdade, deixemos esse papo de “missão” e “sacerdócio” de lado.

Já estive em escolas que me emocionaram muito. Ao chegar em algumas delas, encontrei colegas dispostos a conversar, café, bolo, sorrisos, uma sala de professores preparada, um auditório ou um espaço (quadra, arena, pátio, biblioteca etc.) com microfone, cartazes sobre meu livro nas paredes, trabalhos produzidos pelos estudantes e, a melhor parte, uma moçada que realmente leu e estava ansiosa por fazer perguntas, tecer comentários e aproveitar minha presença ali (e eu a deles). Em alguns casos, encontrei gente encantada, que me tocava como se eu não existisse, ganhei mimos, pediram fotos, postaram selfies, pediram autógrafos nos exemplares comprados ou em pedaços de papel arrancados dos cadernos, confessaram enorme gosto por ler e o desejo de serem também escritores e escritoras. Não precisa ser rico e chique; tem de ser verdadeiro.

Por outro lado, já estive em espaços muito mal preparados, sem condições para minha fala, escolas que queriam que eu ficasse lá o dia inteiro, outras que não se preocupavam em providenciar nem sequer meu deslocamento. É uma viagem frustrante para todos.

Sinto muita falta de que professores e professoras entendessem um pouquinho de edição, soubessem com mais precisão como um livro é produzido, considerassem a questão do trabalho da escritora e do escritor, a precariedade dessa vida (pouco profissional) e a importância da formação de leitores e leitoras não apenas porque leem boas histórias, mas porque sabem o que são os livros, como são feitos, como circulam, que políticas públicas estão por trás deles (ou não estão) etc.

Sou professora. Tenho uma vida muito atribulada. O fato de ser escritora não alivia em nada minha atividade docente. Até deveria, mas é como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra (professor não escreve… esse é o recado). No meu caso, tem, mas me tratam todo o tempo como se fossem facetas que não se comunicam.

Quando uma colega ou um colega de outra escola me chama para um bate-papo com estudantes, preciso saber de muitas coisas e ter condições de atender ao chamado, isto é, é um grande malabarismo. Precisamos estar todos envolvidos nessa atividade e torná-la muito marcante na vida de cada estudante-leitor-leitora. Eu provavelmente precisarei fazer um enorme esforço de tempo e agenda para estar lá, naquele espaço, trocando ideias sobre um livro que é a ponta de um iceberg.

Há uma espécie de etiqueta nessa história de chamar autores na escola, e talvez ela possa ser listada assim:

  • certifique-se de que as turmas leram o livro e estão preparadas para a conversa;
  • organize o bate-papo num tempo razoável e deixe um intervalo para fotos e autógrafos, se a turma quiser;
  • considere o tempo de interação por meio de perguntas e trocas efetivas (há certo controle disso pelos professores para evitar constrangimentos ou até ofensas);
  • convide o autor ou a autora por e-mail ou outro canal, mas lembre-se de perguntas importantes sobre a agenda da pessoa, duração do evento, providências como transporte, alimentação e cachê (lembrar também que autoras podem ter de levar filhos);
  • não se estresse se a autora ou o autor não puder atender, pois a maior parte deles e delas desempenha outra atividade profissional que toma muito tempo, e uma parte não tem mesmo gosto ou talento pelos eventos com muita gente (lembre-se, o livro é uma coisa, a pessoa é outra);
  • hoje é muito possível planejar um evento on-line, com bons resultados também, o que não dispensa perguntas sobre as condições mínimas (a pessoa não se desloca fisicamente, mas reorganiza seu tempo e seus recursos).

Outra coisa que não quero deixar de mencionar é o risco. Já aconteceu comigo e foi grave. Acontece toda hora, com colegas autores e autoras, em todo canto do país. Uns são mais visíveis, outros menos; uns capitalizam em cima dos fatos, outros não. Há reações aos livros e elas podem ser muito negativas e violentas, cheias de preconceitos e desajustes. Isso tem a ver com o contexto social e político em que vivemos, com a formação precária de leitores e leitoras literários, com todo tipo de intolerância… e nada disso é novidade. Os livros sempre foram alvo de censura, monitoramento e polêmica. Às vezes isso se ameniza, noutras, recrudesce. É preciso cuidar disso na escola, na comunidade e na visita dos autores/autoras.

Não sei se eu disse aqui tudo o que queria dizer sobre esse negócio de escrever livros e visitar escolas. Essas experiências vão formando um conjunto de memórias que misturam satisfação e frustrações, e alguém precisa falar sobre isso. Como em mim se combinam os dois lados – escritora e professora da Educação Básica – , me sinto ali no meio do redemoinho. Que seja bom para todos os lados e que possamos aprender uns com os outros, no respeito e na profunda valorização do livro e da literatura.

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Jornadas de sociologia da literatura – GG UBA

Algumas parcerias surgem da pura simpatia que temos por algumas pessoas e de uma percepção de que “daqui sai coisa boa”. Isso se mistura a uma admiração profissional e acadêmica. É assim com a profa. María Belén Riveiro, que conheci em Buenos Aires, uns anos atrás, e com quem venho fazendo boas trocas e colaborações.

Recentemente, ela foi generosa ao me convidar para escrevermos um texto e para uma conferência nas Jornadas de sociologia da literatura que ela e colegas promovem no Instituto Gino Germani, na Universidad de Buenos Aires (UBA). Fui, claro.

Preparei uma conferência baseada em um texto que publiquei em uma importante revista da UnB, mas que acho que pouca gente leu ou viu. Talvez o assunto seja específico demais, não sei. É tão precioso, deu tanto trabalho trabalhar com material de arquivo, é tão revelador… Fato é que a gente precisa sair por aí divulgando os resultados de nossas pesquisas, e aqui fui eu.

Nos últimos anos, tenho me esforçado para conversar com colegas de toda a América Latina, e isso é literal. Sinto uma grande vontade neles e nelas, estamos sempre em contato, firmamos esta rede, mas nem sempre eles podem entender o que dizemos em português. Alguns, sim; outros, dizem ser difícil. Como estou em minoria, avanço pela língua deles do modo que consigo. E tem funcionado. Já tinha estudado espanhol, mas andei reforçando isso nos últimos anos. Sou dessas pessoas que precisam de imersão. Nem sempre tenho essa oportunidade.

Bem, fato é que a conferência foi bacana e tivemos uma boa conversa sobre o contexto brasileiro.

Pode-se ver aqui. Deem um desconto para o portuñol.

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Linguística Aplicada na UnB

Nesta semana, Carla e eu bateremos um papo com colegas a convite da UnB. A pauta tem relação direta com nosso livro do ano passado, Linguística Aplicada – ensino de português, lançado pela Contexto. O QRcode dá acesso à sala.

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Libro – edición y tecnologías en el siglo XXI

Nasceu a versão peruana e até mais atualizada do que a brasileira do Livro – edição e tecnologias no século XXI, originalmente lançado pela Moinhos/Contafios em 2018, abrindo nossa deliciosa coleção Pensar Edição.

O Libroedición y tecnologías en el siglo XXI, traduzido por Alfredo Ruiz e Roy Dávatoc, mesmos tradutores do meu Álbum, também contou com o apoio do programa de traduções da Biblioteca Nacional brasileira.

É uma enorme alegria ter este livro na coleção peruana.

As primeiras apresentações estão sendo na Feira do Livro de Bogotá, onde o livro circulará primeiro, aproveitando que o Brasil é o país convidado de honra. Pena eu mesma não estar lá para ver. Na sequência, espero ter alguns exemplares em minhas mãos, trazidos pelo Nathan Magalhães, editor dele no Brasil.

Em julho de 2024, estive novamente na Feira do Livro de Lima para lançar o Libro e falar em uma mesa sobre tradução e edição. Foi uma viagem rápida e muito proveitosa.

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Bate-papos da Páscoa

Última semana de março, primeira de abril, com Páscoa e tudo. Nesses dias, tive a oportunidade de falar com estudantes de uma escola privada em Ibirité, MG, iniciativa da profa. Pollyana Armanelli; debater com colegas de vários países de língua portuguesa em um podcast literário chamado Orgasmo Literário (uau!), tocado por Yadhiro e Zoé (indicação do Luiz Eduardo de Carvalho); e com colegas em um evento da UFPI, capitaneado pelo querido prof. Ribamar, o Ribas Ninja. Também fui entrevistada no videocast Multileitura, do Admilson Resende, e terminei de ministrar uma oficina de crônicas na Casa Inventada (achei uma delícia!, obrigada, Lara Torres!).

O evento da UFPI trata do ensino de língua materna e suas (des)conexões com as tecnologias digitais. As inscrições são gratuitas e ele pode ser assistido por aqui.

Já o Multileitura pode ser visto aqui embaixo:

As crônicas da Casa Inventada serão publicadas no site, mas o curso fica só para quem fez. 😉

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Mesa na Unifesp

O Gepedtec, grupo de pesquisa em educação e tecnologias da Universidade Federal de São Paulo, celebra seus três anos de atividades com duas mesas incríveis no sábado, dia 23 de março. Vou falar das relações entre TDIC e ensino e vamos lá colaborar com colegas tão admirados, em especial o prof. Sandro Silva.

Para quem quiser assistir, a página do YouTube.

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Entrevista com latino-americanas

A bela revista Puñado, publicada pela editora Incompleta, me fez um convite-delícia de entrevistar uma autora latino-americana garimpada por lá. Fiz o que pude e foi muito legal receber as respostas da hondurenha María Eugenia Ramos. Vale a leitura.

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Cómo nace una editora

Depois de pouco mais de um ano do lançamento do breve ensaio Como nasce uma editora pela pequena Entretantas, foi lançada a edição bilíngue mexicana, com tradução da colega Freja Cervantes Becerril, pela Editora da Universidad Autónoma Metropolitana, UAM, na Cidade do México.

A versão é impressa e morro de ansiedade de tocá-la. Tem sido lançada em feiras e outros eventos mexicanos, com boa receptividade, conforme noticia a tradutora e editora.

Site para comprar.

Aquisição e sinopse pela Ulibros.

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Manualzim de etiqueta básica em 21 dicas para bancas

As bancas de mestrado e doutorado são parte da nossa missão como pesquisadoras e docentes. Dão um trabalho danado (e muita gente não sabe que não ganhamos nada a mais por isso), exigem a leitura detida dos textos e nossa diligência para encontrar problemas e dar sugestões.

Neste março, colaborarei com os trabalhos de quatro pesquisadoras e pesquisadores, de diferentes instituições: CEFET-MG, UFBA, UNIFESP e UEFS. Mestrados e doutorados em diferentes etapas, alguns já concluindo.

É uma honra ser chamada para colaborar com minha leitura. É um momento de aprendizado, de diálogo com outros/as colegas e de trocas com orientador/a e pesquisador/a. Geralmente produzo um documento para seguir na hora, e isso me obriga, portanto, a estudar aquele trabalho. Também me preparo de maneira a explicitar minha intenção colaborativa e de partilhar, tentando não avançar no tempo de outros/as colegas e sendo generosa e delicada com quem escuta.

A foto é ruim! Mas é o registro da minha banca de tese de doutorado na UFMG. Da esquerda para a direta, o prof. dr. Júlio Araújo (UFC), o prof. dr. Vicente Parreiras (CEFET-MG), minha amada orientadora, profa. dra. Carla Coscarelli (UFMG) e a profa. dra. Magda Soares (UFMG). Foi em março de 2008 e eu me emocionei muito, chorei até desidratar. Fui uma pesquisadora trabalhadora e mãe, não foi fácil.

Pensando nisso, neste reinício de temporada de bancas, que só terminará no final do ano, resolvi dar umas poucas dicas. Quem sabe são úteis?

  1. A despeito das metáforas de guerra e “defesa”, as bancas não precisam ser momentos de imensa tensão, medo ou angústia. Normalmente não têm sido. Procure compor, com a ajuda de seu/sua orientador/a, uma banca de pessoas que serão leitoras competentes do seu trabalho e que possam demonstrar isso com generosidade e (alguma) elegância. Não precisa ser um momento de humilhação.
  2. Se sua orientadora (ou seu orientador) disser que o trabalho ainda não está apto para defesa, acredite. Provavelmente ele ou ela participa de bancas e sabe o que pode acontecer. É melhor não ter pressa, recuar e refazer o que for necessário para melhorar e chegar à defesa.
  3. Não componha bancas “amigas” só para agradar alguém ou porque você não confia em seu trabalho ao ponto de dá-lo à leitura de outras pessoas. Você estará desperdiçando um momento ótimo para boas trocas, reais e honestas, além de perder a chance de novos contatos e laços. Pense, com seu orientador ou sua orientadora, em uma banca equilibrada entre pessoas conhecidas e mais ou menos previsíveis e pessoas que trazem ângulos e leituras potencialmente novos. Meça os riscos, claro. E evite gente que só quer lacrar.
  4. recomendações da Capes para a formação de bancas. O ideal é que haja sempre alguém de dentro da sua instituição e outra proporção de pessoas externas. Isso não é à toa. É importante ouvir leitores e leitoras menos “viciados” no seu trabalho. Evite o desnecessário e o excesso. Se não couber todo mundo que você quer, faça outros tipos de menções e homenagens. E se sua banca tiver mais do que duas (mestrado) ou quatro (doutorado) arguições… avise às pessoas… É muito desrespeitoso quando a banca percebe que terá de dispor de muito mais tempo naquela manhã ou tarde. E, aliás, suplentes não fazem a arguição. Eventualmente, por delicadeza, se estiverem presentes, podem ser convidados/as a dar um “oi”, mas só “oi” mesmo! Podem enviar um texto depois, se fizerem questão. E isso pode ser ótimo.
  5. Bancas de mestrado são formadas por 2 avaliadores e seu orientador (ou orientadora), sendo que apenas os convidados fazem a arguição (ou a conversa). As bancas de doutorado têm o dobro disso e são mais exigentes e exaustivas. Tudo passa, e o final é uma grande conquista.
  6. Na abertura dos trabalhos, que devem ser públicos, seu orientador ou sua orientadora deve explicar o ritual (às vezes algumas pessoas na plateia não fazem ideia de como acontece) e dar a sessão por aberta oficialmente. É interessante explicitar os tempos de cada arguidor/a e responder a eles/elas. Há colegas pouco éticos e educados que dão aulas, em vez de serem avaliadores; às vezes gastam mais tempo falando de um trabalho que você deveria ter feito, e não sobre seu trabalho real… afff paciência. Usam o tempo de todos e até fingem se preocupar. Tente que seu orientador ou sua orientadora faça essa mediação, se isso começar a acontecer. Você não precisa sofrer mais do que o necessário nesta situação, nem o restante da sua banca.
  7. Estude um pouquinho o Lattes e a produção das pessoas que compõem a sua banca. É de bom tom (no mínimo) saber quem são aquelas pesquisadoras e pesquisadores que estão ali.
  8. Você não é obrigado/a a citar todas as pessoas que estão na sua banca, mas é de bom tom que, sim, você tenha feito alguma relação entre seus estudos e os dessas pessoas, inclusive e principalmente o trabalho da sua orientadora (do seu orientador)!! Não leve um puxão de orelha sobre isso: “poxa, sua orientadora é um expoente nesta área e você…”. Pois é… E raramente orientadores têm coragem de falar algo sobre isso porque pode parecer arrogante, sabe lá. E mais: não deixe de citar trabalhos do seu próprio programa de pós. Vocês não estão construindo juntos?
  9. Bancas de mestrado regulares duram cerca de 2h30; as de doutorado podem durar 5h ou mais. É cansativo! Não se esqueça de preparar uma água, quem sabe até mais alguma coisinha. É permitido e desejável fazer um intervalinho em algum momento.
  10. Dialogue com a sua banca. As pessoas não estão ali à toa. São gente ocupada e que se dedicou à leitura do seu trabalho com afinco, gratuitamente, mesmo tendo muitas coisas a fazer. Se perguntarem ou comentarem algo, demonstre interesse, responda, elabore algo ou, simplesmente, seja simples e honesto/a: “professora, não cheguei a refletir sobre isso, mas vou anotar e preparar algo sobre o assunto. É, sem dúvida, uma questão relevante, sobre a qual me debruçarei depois”. Não precisa ser com essas palavras pomposas, claro. 🙂 Mas você pode dizer que não sabe, que não pensou naquilo, que é um bom insight etc. Pode defender um ponto de vista, argumentar, explicar. Se você for mesmo caxias, pode até enviar uma mensagem posterior para resolver o assunto. É bem simpático fazer isso. E enviar o texto final, definitivo, a todos.
  11. Não seja arrogante, de maneira alguma. Uma das qualidades de um/a pesquisador/a, durante o processo e sempre, é a escuta. Não quer dizer obediência cega… e nem reduz seu potencial. A gente (a banca) sempre sabe quem não escutou nada durante a pesquisa…
  12. Dificilmente seu trabalho é completamente inédito, nada igual existe sobre a face da Terra. Controle-se e pense que sempre há mais o que ler e estudar. Diga apenas que você tem uma boa contribuição a dar, e dê.
  13. Ninguém domina mais o seu trabalho do que você. É normal ficar ansioso/a, mas apenas o inescapável. Depois de começar a falar, rapidinho você se sentirá capaz e à vontade. É um processo importante.
  14. Você pode apresentar slides ou entregar documentos. É importante fazer isso para que você se guie, não se perca, nem na pesquisa e nem no tempo da apresentação (coisa de 25 minutos, aproximadamente). Mas evite slides lotados de texto. Prefira frases enxutas e imagens importantes, se seu trabalho as tem. Não precisa começar na Introdução e seguir a sequência da tese. Você pode escolher um ponto mais estratégico por onde começar e explicar sua pesquisa a partir dali. Tudo é edição e é saber como contar uma história.
  15. Costumo dizer aos meus orientandos e orientandas que façam no máximo 10 slides… Foi o que aprendi com os anos de experiência me apresentando e sendo banca. Sempre digo a eles e elas: mostre logo seus dados e sua análise, que são o coração do seu trabalho. Essa quantidade de slides costuma dar e sobrar… a gente sempre fala mais do que planejou. Se gastarmos 2 minutos em cada um… já são 20 minutos. Dimensione isso bem e não confie tanto nos famosos ensaios que você faz uns dias antes.
  16. Agradeça quem esteve com você: familiares, cônjuges, professores, rede de apoio, orientador/a, o deus da sua religião etc. Nunca é demais. Mas não se esqueça de pensar nas pessoas que não ajudaram, que sabotaram e que não impulsionaram você e suas conquistas. Não precisa mencioná-las, mas pense nisso. As mulheres costumam ter muita história para contar a esse respeito. Infelizmente.
  17. Ajuste em sua tese ou dissertação os itens que a banca apontar. Tenha efetiva consideração pelas leituras das pessoas que se dedicaram ao seu estudo. E não precisa esconder esse diálogo final na versão da biblioteca. Você pode escrever notas de rodapé, por exemplo, agradecendo explicitamente a sugestão X ou Y da banca. Esse diálogo pode e deve ser visível, até porque, às vezes, a banca dá uma contribuição sagaz que nem é ideia sua. Não custa admitir e apontar.
  18. Não suba no salto depois da defesa. Quase sempre os trabalhos são indicados para publicação etc. Não tenha pressa com isso. Se for publicar depois (e isso é importantíssimo), faça-o bem, escolhendo boas revistas, boas editoras e lembrando que esta é uma nova etapa, com mais pareceres e colaborações.
  19. Divulgue sua banca. Lembre-se, antes, de assistir às bancas de seus/suas colegas. É uma reciprocidade bacana, além de ser um momento importante de aprendizado do ritual e dos assuntos abordados.
  20. Algumas instituições têm rituais mais formais, outras menos. Isso depende da cultura da área, dentre outros fatores. Observe esse código. De todo modo, evite irreverência demais em qualquer situação, já que o momento é de seriedade (e não de sisudez) e importância.
  21. Não há uma regra para a extensão dos trabalhos… mas seja sensato/a. Diga o que precisa ser dito, escreva bem e organizadamente e respeite o tempo das pessoas.

Bem, foram 21 coisinhas de que me lembrei enquanto pensava nos trabalhos que lerei agora. Espero que sejam úteis para quem vai encarar esse momento da “defesa” no ano que se inicia. Sucesso a todos e todas. E que venham mais diquinhas, se vocês se lembrarem de outras.

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Ana Elisa • 2020