2021 entrou. Chutou a porta, mesmo sob a resistência de 2020, um ano gosmento, pegajoso. E tenho vivido um intenso conflito: não gosto da vida antes de 2020, mas temo gostar menos ainda dela depois. Como viver com isso? Este durante que a pandemia trouxe me parece uma travessia, algo efêmero, mas muito intenso. Eu só queria ter certeza de que do lado de lá é melhor. É pedir muito, eu sei.
Ando pensando na volta às aulas presenciais, nas aulas remotas compulsórias, nos períodos enormes sem férias, na batalha dos estudantes sumariamente excluídos do sistema escolar pela falta de tecnologias digitais. Tenho pensado em como tive a sensação rara de administrar melhor meu tempo, já que não tinha de perdê-lo pegando trânsitos, engarrafamentos, filas de entrada no campus, reuniões intermináveis, etc. Quanto eu desperdiçava naquela vida! Hoje, desperdiço menos, em muitos sentidos, mas também não vivo certas trocas que apenas o presencial provê ou permite.
Será que vamos entender que não se trata de uma substituição? (Quando deixar efetivamente de ser uma…) Será que aprendemos algo e que poderemos, diligentemente, fazer melhor do que já fazíamos? Será que estamos atentos e atentas às práticas que são mais inteligentes? Minha resposta tem sido sempre um desanimado e desesperançoso ‘não’.
Eu não devia me abrir assim. Dos professores e das professoras é cobrada uma fé cega, não é? Como se nunca pudéssemos esmorecer diante de desafios pesados. Este país é um desafio horripilante, por exemplo, para quem se forma professor. Nenhuma faculdade nos fala abertamente sobre a real situação; e talvez raros professores e professoras do ensino superior tenham posto os pés no chão da fábrica. Como saber?
Tenho pensando que gostaria de estar de férias em janeiro… mas a decisões tomadas pela instituição nos puniram duplamente. É assim que sinto, mesmo que a intenção tenha sido outra e boa. Sem férias, sem estrutura e com medo, é assim que recomeçamos. E recomeçaremos e o baile seguirá, eu sei.
Retomemos o trabalhos, sempre do melhor modo possível. E com saúde, que tem sido o que mais interessa. Feliz 2021 letivo a todos/as.