É claro que essa peça de feliz ano novo só vale pros mais responsáveis e empáticos. #prontofalei
Mês: dezembro 2020 Page 1 of 3
Na graduação e na pós, nesta com mais liberdade do que naquela, a gente lida com pelo menos dois tipos de disciplinas: as obrigatórias e as optativas. Geralmente, visto de dentro, isso quer dizer que oferecemos matérias fixas e previstas na matriz curricular, essas que são de eixo e que definem, juntas, um curso, uma formação; e matérias que podemos “inventar”, propor a cada semestre, a fim de dar vazão a assuntos e questões que uma matriz curricular demora muito a absorver.
É uma mescla interessante entre o passo lento do que precisa ser estabelecido e pensado e o passo ágil dos ventos que sopram, aqui e ali, e que não podemos deixar passar batidos. Ao mesmo tempo que podemos omitir debates presentes, caso não façamos essas propostas atuais, podemos ser acusados de modismos, quando fazemos demais. É um equilíbrio necessário e muito interessante.
Tive algumas oportunidades de participar da criação, composição e implementação de cursos de graduação e pós (lato e stricto sensu). É um trabalho sério, difícil, comprometido, que, em larga medida, exige atenção ao presente, ao passado e ao futuro. Fiz em instituições privadas e públicas, sendo estas bem menos afetadas pelas pressões do capital e da moda. Há coisas que fazemos justamente para deixar, para doar.
Como se configura um curso de Letras, por exemplo? E como configurar um curso de Letras em edição? Eram perguntas que nos fazíamos, e que nos obrigaram a uma tentativa de prática que nem mesmo nós tínhamos. É uma aposta séria, com riscos medidos. E sofreremos sempre críticas e nunca mais deixaremos de ajustar e ajustar e ajustar. Não é assim mesmo?
Meu 2020 não terminará tão cedo, do ponto de vista profissional. 2021 entrará, inexorável, e eu estarei ainda pagando o segundo semestre do ano triste da pandemia. Isso sempre me incomoda em outras situações, e continua me incomodando muito. Sinto como uma espécie de castigo por algo que não foi escolha minha. Mas enfim, desde crianças lidamos com essas coisas.
Em 2021, janeiro, começarei algumas disciplinas do segundo semestre de 2020. Uma delas tem me alegrado muito porque será um consórcio muito afetuoso e disponível entre colegas da Argentina e nós aqui. É uma dessas matérias optativas da pós (mestrado e doutorado) e a compusemos para discutir aspectos de gênero, feminismos e o mundo do livro. O esquema será todo virtual, como já poderia ter sido há muito tempo, mas precisou desta pandemia para ser vislumbrado.
Outra optativa que propus é sobre a multimodalidade e a BNCC, relação que venho estudando há algum tempo, inclusive com algumas publicações que tocam no assunto. É absolutamente urgente debater sobre isso, não? A implementação inteligente e crítica da BNCC (ou não) tem relação forte com uma compreensão sobre ela, e acho que isso passa por entendermos um pouco de onde aquele discurso saiu.
Esse é o tipo de tema fundamental e emergente, que não pode ser previsto numa matriz fixa de cursos e que precisa encontrar espaços e abertura para acontecer, conforme nossas antenas estejam ativas.
Na graduação, por exemplo, farei coisa semelhante, mas a liberdade é menor. A matriz é mais dura, os tempos são escassos e há mais entraves. No entanto, além das ofertas obrigatórias de matérias prefixadas, como Oficina de Textos e Contexto Social e Profissional, emplaquei, com um doutorando muito competente, uma disciplina de Marketing editorial. Não há esse tipo de assunto no curso ou há muito lateralmente. Vamos combinar que, num curso de edição, é importante, não é? E quem poderia ministrar algo assim melhor que um editor real? Bom, eis que. Por isso considero esse equilíbrio tão importante. Lembrando que as aberturas precisam estar, antes, nas cabeças das pessoas. É o mais complicado.
No ensino médio, minha gente, é onde a liberdade não está e onde os espaços para propor não existem ou são exíguos. Só posso lastimar. E nem gosto de falar muito nisso, ainda mais estando de férias. Resumindo: a gente é mais adestradinho/a quanto mais jovem… e depois não sabe direito o que fazer com a liberdade e a criatividade. Sigamos juntos/as.
Este – letramento digital – talvez tenha sido o tema que mais me acompanhou durante o ano de 2020, o tema da vez, infelizmente porque foi necessário e compulsório. As razões não são boas, mas até quem se dizia avesso/a às tecnologias digitais teve de se reinventar (expressão da moda! para escamotear o aperto pelo qual passaram/passamos). Sem dúvida, quem tinha menos aversão ou tinha até disposição passou por isso com menos escoriações e traumas.
Neste finalzíssimo de ano, tive a notícia de mais um artigo publicado sobre o tema. Desta vez, na revista Debates em Educação, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde participei de eventos e falei bastante. Foi um ano de falar muito e escrever também. E de rever. Neste ensaio, revi algumas coisas que ajudei a propor, no início dos anos 2000.
O artigo está disponível para baixar e é uma espécie de ensaio. Não exatamente um relatório de pesquisa de campo nem nada. Acho que foi necessário pensar e repensar como exercício diário, enquanto fazíamos o que podíamos, numa prática de ensino que ninguém nos ensinou. Que seja útil para quem puder ler.
Sentimos o impacto, não é? As escolas, de maneira geral e ampla, sentiram. E enquanto sentíamos, pensávamos. Fomos tentando refletir, mesmo que de dentro, sobre o que se passava. O livro que a Editora da PUC Minas acaba de lançar reúne uma série de textos sobre essa questão, de muitos/as pesquisadores/as de várias partes do país. Convido à leitura, grata ao convite de Juliana, Fabiana e Cédric.
Mesmo amando o tema das mulheres na edição, a pesquisa sobre edição e mantendo a força de tudo o que diz respeito a isso, lançando revistas científicas nessa praia e livros gratuitos, nenhum tema me convocou mais este ano do que a questão das tecnologias digitais e a escola.
Eu vinha de uma certa ressaca sobre o assunto. Havia mais de 20 anos que pesquisava isso, ser ver muita coisa avançar mesmo. Participei de dezenas de bancas de mestrado e doutorado sobre educação e TDIC, sabia das conclusões de tanta gente, em tantos lugares, sempre demonstrando que essa relação era morosa, difícil, infraestrutura ruim, ethos analógico, etc. Sabíamos disso. Havia gente mais esperançosa. Eu estava meio cansada, achando que ficaríamos sempre assim… reme-reme. Até que veio a pandemia.
O coronavírus lançou um desafio enorme a todas as pessoas, a estudantes e professores do mundo inteiro. Essa equalização tornou o cenário triste, mas interessante para muitas análises. Era como se uma variável grande, importante, tivesse sido controlada. Podemos falar de TDIC? Agora, sim. Mas sob que experiência? Uma experiência terrível. E sem saída.
Nesse 2020 estranho e em que muitas pessoas foram sumariamente excluídas da escola por falta de conexão adequada, publiquei muitos textos, com coautores/as ou solo, tentando pensar nos acontecimentos, nas consequências, mas também desabafando e lembrando que a escassez e a angústia que vivíamos no ensino remoto era também já uma consequência de mais escassez e aflição. Consequência da demora, da falta de estrutura e formação, entre outras coisas.
Este foi o primeiro texto desabafo que publiquei, depois de dias e dias pensando no que fazer, em como reagir à pandemia na escola. Minha instituição havia suspendido o calendário e amarrado minhas mãos. A Parábola Editorial me deu espaço e sapecamos lá esta conversa.
Alguns artigos saíram com minhas reflexões sobre outros textos que considero seminais e importantes para nosso debate no Brasil. Um deles foi Do fosso às pontes, publicado na Revista da ABRALIN, em que me dediquei à ideia dos “nativos digitais”, que sempre considerei um desserviço, mas que colou bem no Brasil. O outro foi um texto em que li a contrapelo (essa expressão tá na moda entre os estudiosos da literatura rsrsrs), o manifesto da Pedagogia dos Multiletramentos, do New London Group, publicado em 1996 e grande influenciador de nossa linguística aplicada e até da BNCC, hoje em dia. Que futuros redesenhamos? saiu na revista Diálogo das Letras, da UERN, e foi um alívio para mim.
Eu e Carla Coscarelli já havíamos publicado nosso dossiê sobre leituras digitais na Texto Digital (UFSC) quando a pandemia se abateu sobre nós. Mantive o debate sobre textos e multimodalidade, sempre na relação com as tecnologias e com a escola, em outras oportunidades, como na revista Triângulo (UFTM) (Textos multimodais na sala de aula) e na Educação & Comunicação, da USP, em que discuti a leitura de livros entre jovens do ensino médio, hoje.
Aguardo ainda um capítulo de livro que sairá pela PUC Minas, em que discuto as categorias tempo e espaço no ensino remoto, com base em Josefina Ludmer. Ah, pronto, aqui está no Issuu e, logo, para baixar.
Em algumas ocasiões, fui entrevistada. Uma conversa saiu na revista Texto Digital e outra, na Entretextos (UEL), mais recentemente.
Com a Amanda Ribeiro, mestranda no CEFET-MG e professora da educação infantil, publiquei este texto sobre livros e leitura, cheio de afeto, na Revista Brasileira de Alfabetização.
Foi um ano difícil e triste, de pensar muito e trabalhar mais ainda. Não fugi da raia. Às vezes me arrependi um pouco do que disse, em dezenas de lives; outras vezes achei que devia mesmo dizer. E fiz tudo com responsabilidade e franqueza (não fraqueza). Seguimos pensando a educação, que foi o que fizemos quando publiquei, com Pollyanna Vecchio, parceira e doutoranda do CEFET-MG, o livro Tecnologias digitais e escola, pela Parábola, com fomento da Diretoria de Extensão e Desenvolvimento Comunitário. Depois de conduzir por meses o projeto Aula Aberta virtual, com acervo no YouTube, este livro é um presente gratuito a todos/as os/as professores/as.
A Academia Mineira de Letras tem sempre novidades e convites bonitos. Desta vez, pediram que eu selecionasse alguns poemas de poetas brasileiros/as cujo tema fosse o Natal, o Ano Novo, etc. Deu trabalho porque eu quis realmente procurar nos meus livros. Deixei a internet de lado. E aí deu nisto: um vídeo de leituras do qual participam pessoas queridas, numa mensagem de alegria, esperança e fé.
Embora tenha sido um ano-encrenca, como todos sabemos, ano-morte, ano-doença, ano-tristeza, com esta coisa de ficar em casa, mesmo dando aulas remotas, consegui ser muito mais dona do meu tempo. A despeito dos/as críticos/as de plantão, muito preocupados/as com a agenda da gente, a saúde da gente, a mente da gente, a trabalheira da gente… reagi tentando dormir melhor, comer bem (sem engordar) e pondo diante de mim projetos que sempre desejei começar ou terminar e não conseguia, justamente porque naquela vida pré-pandemia o corre era insano e isso, sim, me fazia muito mal. Me fazia mal a quantidade de trânsito, de aulas, de toxidade, falta de tempo pra almoçar direito, salgado péssimo na cantina horrorosa, barulho, Makita ligada o dia inteiro, etc. Isso, sim, devia preocupar tanta gente que agora se preocupa em criticar lives e dizer que isto e aquilo, legislando sobre a vida alheia.
Bom, fora esse tipo de chatice, administrei melhor o timing, consegui finalizar algumas coisas que estavam estacionadas havia um tempo, me dediquei mais ao que me move de verdade e mantive os laços que interessam (porque as redes servem também para isso e os afetos de verdade não se desfazem na virtualidade).
Das coisas que publiquei neste 2020, algumas têm a ver com a pesquisa que me mobiliza nos últimos quase nove anos: mulheres e edição. Embora alguns projetos tenham continuado inconclusos (mas não desisti!), alguns outros andaram. Nosso grupo de estudos Mulheres na Edição ganhou força e alcance, nossas leituras mantiveram a cadência, nossas redes intelectuais se ampliaram e fortaleceram. Estou grata ao grupo todo (mais de uma centena e meia de pessoas) e às queridas parceiras Paula Renata e Rosário. O grupo da ANPOLL também foi muito importante e me deu gás.
Deixo aqui uma listinha dos produtos desses projetos que mais me alegraram neste ano estranho:
Com meu amado parceiro Sérgio Karam, publiquei dois artigos, um sobre a Editora Mulheres e Zahidé Muzart (Revista Letrônica, da PUC RS), em que recuperamos, tentativamente, o catálogo dessa casa já extinta, e outro sobre livros de bolso no Brasil, com atenção especial à Biblioteca Universal Popular, na revista argentina Palabra Clave (La Plata). Nos dois casos foram dossiês específicos, e no segundo caso fomos convidados por colegas do México e da Argentina.
Também com colegas argentinas, publiquei um artigo sobre Tânia Diniz e seu mural Mulheres Emergentes nos Cuadernos del Centro de Estudios en Diseño y Comunicación, num dossiê que organizamos juntas. Foi, mais uma vez, a consolidação de laços de trabalho e afeto que ainda darão mais frutos. Uma das disciplinas que darei na pós no início de 2021 será com essas colegas fabulosas, Ivana Mihal e Daniela Szpilbarg.
Para minha enorme alegria, tive um livro-ensaio publicado na Pequena Biblioteca de Ensaios Perspectiva Feminista da Zazie Edições. O volume chama-se Subnarradas: mulheres que editam, e pode ser baixado gratuitamente. Isso foi algo bem especial e preciso agradecer pelo cuidado da editora Laura Erber com o texto e o livro.
E quando o ano já ia acabando, ganhei o presente de ter um artigo na Revista do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP sobre seis editoras dirigidas por mulheres e que têm dado especial atenção à publicação de poesia. Foi um convite que adorei atender.
Participei de seminários, dei palestras, organizei eventos com colegas, publiquei uma coletânea de contos derivada da oficina Escreva com(o) uma mulher, assim como pus na rua, com o Cleber Cabral, o Tarefas da Edição. Li e turbinei minha biblioteca de estudos feministas.
Tenho muitos motivos para ser grata por tudo o que aconteceu neste 2020, em que me tornei professora titular e consegui me manter trabalhando bastante, sem perder o pé, apesar de todo o caos. Motivo também para agradecer por tantas parcerias e tanto afeto, escapando da morte por meio da ciência e da poesia.
Nesta sexta, a RCPFSescSP será lançada e o número é sobre a poesia, a leitura do mundo via poesia. Recebi o convite para participar e fiquei muito alegre. É um tema do coração, e eu o misturei ao meu interesse pela edição. O artigo de minha autoria é sobre as editoras dirigidas por mulheres que têm dado maior atenção à publicação de poesia, hoje, no Brasil. Foi uma delícia escrever. O volume é de acesso gratuito.
O livro nunca sai do meu radar; nem eu do dele. Esta semana, terei a oportunidade de dois papos ótimos sobre livros. O primeiro tem relação com a conclusão de uma turma do curso Dobras de Si, de São Paulo, que me convidou a apreciar quatro das obras produzidas por lá. O segundo é uma mesa animadíssima na comemoração dos 10 anos do curso de Produção Editorial da Universidade Federal de Santa Maria, que acompanho desde o início. Diversão garantida.
Hoje é o lançamento virtual de um livro belíssimo. A obra foi organizada por três colegas dedicadíssimas ao tema do livro e das bibliotecas: Cleide Fernandes, Fabíola Farias e Maria da Conceição Carvalho. É também um presente pelo aniversário de Belo Horizonte, esta cidade charmosa.
Que alegria participar, dar meu depoimento, provocada pelas perguntas da Conceição. Sempre gosto de me lembrar de minha trajetória de leitora e escritora.
A transmissão será aqui.
O livro pode ser baixado. Mesmo a versão impressa vem sendo distribuída.
Matéria no jornal O Tempo.