Embora tenha sido um ano-encrenca, como todos sabemos, ano-morte, ano-doença, ano-tristeza, com esta coisa de ficar em casa, mesmo dando aulas remotas, consegui ser muito mais dona do meu tempo. A despeito dos/as críticos/as de plantão, muito preocupados/as com a agenda da gente, a saúde da gente, a mente da gente, a trabalheira da gente… reagi tentando dormir melhor, comer bem (sem engordar) e pondo diante de mim projetos que sempre desejei começar ou terminar e não conseguia, justamente porque naquela vida pré-pandemia o corre era insano e isso, sim, me fazia muito mal. Me fazia mal a quantidade de trânsito, de aulas, de toxidade, falta de tempo pra almoçar direito, salgado péssimo na cantina horrorosa, barulho, Makita ligada o dia inteiro, etc. Isso, sim, devia preocupar tanta gente que agora se preocupa em criticar lives e dizer que isto e aquilo, legislando sobre a vida alheia.

Bom, fora esse tipo de chatice, administrei melhor o timing, consegui finalizar algumas coisas que estavam estacionadas havia um tempo, me dediquei mais ao que me move de verdade e mantive os laços que interessam (porque as redes servem também para isso e os afetos de verdade não se desfazem na virtualidade).

Das coisas que publiquei neste 2020, algumas têm a ver com a pesquisa que me mobiliza nos últimos quase nove anos: mulheres e edição. Embora alguns projetos tenham continuado inconclusos (mas não desisti!), alguns outros andaram. Nosso grupo de estudos Mulheres na Edição ganhou força e alcance, nossas leituras mantiveram a cadência, nossas redes intelectuais se ampliaram e fortaleceram. Estou grata ao grupo todo (mais de uma centena e meia de pessoas) e às queridas parceiras Paula Renata e Rosário. O grupo da ANPOLL também foi muito importante e me deu gás.

Deixo aqui uma listinha dos produtos desses projetos que mais me alegraram neste ano estranho:

Com meu amado parceiro Sérgio Karam, publiquei dois artigos, um sobre a Editora Mulheres e Zahidé Muzart (Revista Letrônica, da PUC RS), em que recuperamos, tentativamente, o catálogo dessa casa já extinta, e outro sobre livros de bolso no Brasil, com atenção especial à Biblioteca Universal Popular, na revista argentina Palabra Clave (La Plata). Nos dois casos foram dossiês específicos, e no segundo caso fomos convidados por colegas do México e da Argentina.

Também com colegas argentinas, publiquei um artigo sobre Tânia Diniz e seu mural Mulheres Emergentes nos Cuadernos del Centro de Estudios en Diseño y Comunicación, num dossiê que organizamos juntas. Foi, mais uma vez, a consolidação de laços de trabalho e afeto que ainda darão mais frutos. Uma das disciplinas que darei na pós no início de 2021 será com essas colegas fabulosas, Ivana Mihal e Daniela Szpilbarg.

Para minha enorme alegria, tive um livro-ensaio publicado na Pequena Biblioteca de Ensaios Perspectiva Feminista da Zazie Edições. O volume chama-se Subnarradas: mulheres que editam, e pode ser baixado gratuitamente. Isso foi algo bem especial e preciso agradecer pelo cuidado da editora Laura Erber com o texto e o livro.

E quando o ano já ia acabando, ganhei o presente de ter um artigo na Revista do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc SP sobre seis editoras dirigidas por mulheres e que têm dado especial atenção à publicação de poesia. Foi um convite que adorei atender.

Participei de seminários, dei palestras, organizei eventos com colegas, publiquei uma coletânea de contos derivada da oficina Escreva com(o) uma mulher, assim como pus na rua, com o Cleber Cabral, o Tarefas da Edição. Li e turbinei minha biblioteca de estudos feministas.

Tenho muitos motivos para ser grata por tudo o que aconteceu neste 2020, em que me tornei professora titular e consegui me manter trabalhando bastante, sem perder o pé, apesar de todo o caos. Motivo também para agradecer por tantas parcerias e tanto afeto, escapando da morte por meio da ciência e da poesia.

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