Categoria: Divulgação científica

Insuficiência &

Há alguns anos, venho pesquisando mulheres editoras no Brasil. E não vou falar de método ou de bibliografia. Vou falar dos meus sentimentos. Vivo sentindo coisas como insuficiência, impotência e vazio. Não chegam a me paralisar, mas são incômodos de uma pesquisadora realmente envolvida com seu tema e seus objetos. Sempre a sensação de que não sei nada, de que sei quase nada, de que encontrei algo importante, mas que não será possível descrever ou refletir sobre; impressão de que falo bobagens sobre o achado; sensação de que sei menos que todos/as e de que há muito sob aquela folhagem, mas que não conseguirei alcançar.

Seria mais cômodo, talvez mais fácil, procurar assuntos e métodos que já estivessem aí, disponíveis. Seria o caso de apenas pegar, recolher, continuar de algum ponto, complementar. Mas não dá mais para voltar atrás quando elegemos um assunto que nos parece tão relevante e tão necessário, embora pouca gente olhe para ele. Meu sentimento de que trato mal e poucamente de um grande tema não me deixa em paz.

Tive experiências recentes que se misturaram ao meu percurso de pesquisa no tema das mulheres editoras. Essas experiências me fizeram sentir mais e pensar bastante, sem me desencorajar. Uma foi a escrita de um ensaio para uma editora digital que admiro muito, a Zazie. Quanto tempo fiquei debruçada sobre uns textos, uns vídeos, uns pensamentos meus que saíam e voltavam, minha própria trajetória de pesquisadora insuficiente. O texto começava, esgarçava-se, partia-se em várias possibilidades, inconcluía-se e eu voltava a ele, depois de respeitar um intervalo de sanidade. Escrevi lentamente, aos pedaços desconexos, e somente depois de assistir à live com a profa. Eurídice Figueiredo, a escrita escorreu mais forte. Entreguei. Havia um prazo, já desrespeitado, e eu me incomodo muito com atrasos. Entreguei sem finalizar, é certo. Todo texto é isso, afinal. Mas não me desculpo por qualquer inconsistência, incoerência ou ausência; há algo que sempre escapa.

Tânia Diniz

A outra experiência está relacionada justamente ao objeto que pesquiso, essas mulheres que editaram e editam no Brasil, tão mal contadas. Bom, para falar da mineira Tânia Diniz, tive de ler, assistir a entrevistas, procurar parca bibliografia e falar com ela mesma, que sempre foi muito atenciosa e simpática comigo. Fiz isso enquanto escrevia um artigo sobre sua luta de décadas pela existência do mural Mulheres Emergentes.

Quando meu artigo ainda estava por sair, Tânia faleceu, vítima de um câncer que a desafiava havia anos, contra o qual ela lutou bravamente, mas que a venceu precocemente. Terrível. No artigo, me despedi dela em nota.

Lina Tâmega Peixoto

Agora, nesta semana que corre, faleceu a escritora Lina Tâmega Peixoto, mineira radicada em Brasília. Também li sobre ela, nos falamos por e-mail (ah, quando eu soube que ela era viva, que alegria!), vi suas fotos, estudei e escrevi. Produzi um artigo destacando uma experiência relevante de Lina como editora de um periódico literário histórico em Minas Gerais. De novo, antes de o texto sair, a poeta falece. Mais uma vez, redigirei uma nota de agradecimento e despedida.

A história dessas pioneiras ainda está com elas. Muitas estão vivas e seu pioneirismo é flagrante, flagrável em entrevistas pessoais. Isso é efeito de uma questão social, que permitiu a ocupação desses espaços por essas mulheres apenas recentemente, e é elemento caracterizador da minha pesquisa, que me põe diante das pessoas diretamente, e me faz lidar com suas partidas. Sinto, então, além da sensação de que nunca sei o suficiente sobre isso, uma angústia de quem corre contra o tempo, de quem pesquisa sobre bases frágeis, já que quase nada sobre a atuação de editoras dessas mulheres foi narrado ou devidamente documentado.

Que meus textos, breves e lacunares, sirvam ao menos de início para as devidas homenagens e dos reconhecimentos que as editoras pioneiras merecem.

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Leitura e leitores/as

Hoje, às 17h30, teve papo sobre leitura e livros no programa Brasil das Gerais, na Rede Minas. Dei vários pitacos.

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Filmes

Durante a pandemia, assisti a muitos filmes, muitos mesmo. Tirei o atraso dos que eu queria ver e não tinha tempo, mas também passei a ver novidades que eu nem sabia que existiam. Meu companheiro de cinema foi o Sérgio Karam, que entende das coisas boas. Inclusive, um dos filmes a que assisti por uma dívida que tinha com o Sérgio foi O poderoso chefão!

Outro motivo que me levou a assistir a filmes que eu desconhecia foi um convite da Letícia Santana Gomes, nossa aluna de doutorado (e formada em nossa graduação em edição!). Ela está organizando um livro sobre edição e cinema e me enviou uma lista de possibilidades pra comentar. Escolhi falar de um filme em especial, mas acabei guardando a lista da Letícia para meu deleite.

Deixo aqui três textos que escrevi nestes tempos, em sites diferentes, com dicas sobre os filmes a que assisti. Acho que podem interessar bastante!

Três filmes sobre livrarias, para o site LiteraturaBR

4 filmes sobre publicar livros, para o Digestivo Cultural

Filmes de guerra, de outro jeito, para o Digestivo Cultural

Estes dias, volto a escrever sobre mais um, um curta-metragem!

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Mulheres editoras no Brasil

Palestra para a Academia Mineira de Letras, 2019.

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Mulheres editoras

Entrevista ao jornal Hoje em Dia sobre a pesquisa de mulheres editoras brasileiras.

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Mulheres na Edição

Entrevista do grupo de estudos Mulheres na Edição ao professor Luiz Henrique de Oliveira, no programa Palavra Editada, no Canal Noticioso, em 2020.

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Livros para preencher

Artigo/ensaio/meio resenha para a revista OQI, a convite da profa. Cláudia Bomfá, v. 4, 2015.

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Como sou escritora

Artigo na revista OQI, da UFSM, v. 1, escrito a convite da querida profa. Cláudia Bomfá.

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Ana Elisa • 2020